Ver para acreditar: decifram poemas de 1.400 anos atrás que explicam o desaparecimento de um animal único na Terra

Para muitos, poesia e ciência são duas disciplinas opostas. Mas há descobertas arqueológicas que conciliam ambos os conceitos. Por exemplo, uma investigação decifrou o segredo de um animal através de poemas com 1400 anos: a evolução ecológica do golfinho sem barbatana do Yangtze, na China.

Durante mais de um milénio, este animal peculiar tem sido um símbolo constante na cultura chinesa. Graças às menções em poemas desde o século VII até ao século XX, os cientistas conseguiram mapear num estudo publicado na revista Current Biology como a distribuição geográfica desta toninha foi diminuindo até níveis alarmantes.

A descoberta não só permite traçar o retrocesso vital da única toninha de água doce do mundo e um dos animais mais carismáticos da China, mas também convida a repensar a forma como a literatura pode servir como ferramenta para a conservação de habitats naturais.

Poemas da China imperial revelam por que este curioso animal desapareceu

Durante séculos, o golfinho sem barbatana do rio Yangtze foi um tema recorrente nos poemas de imperadores, viajantes e eruditos da China antiga. Desde a dinastia Tang até a dinastia Qing, numerosos textos mencionam este animal como símbolo do rio e presságio natural.

Ao interpretar os textos e cruzar as menções literárias em poemas publicados nos últimos 1.400 anos com informações biográficas dos seus autores, os cientistas conseguiram traçar o mapa dos locais onde este simpático cetáceo foi avistado ao longo dos séculos.

A análise revela que a distribuição ecológica do golfinho sem barbatana do Yangtze diminuiu 65% desde a antiguidade. No canal principal do rio Yangtze, a diminuição da sua presença foi de 33%, mas nos afluentes e lagos, o colapso chegou a 91%.

As características do golfinho sem barbatana do rio Yangtze

A peculiaridade do golfinho sem barbatana do Yangtze é que é a única toninha de água doce do planeta. A sua característica mais visível é a ausência de barbatana dorsal, o que lhe confere uma silhueta suave e arredondada.

Os golfinhos do Yangtze têm uma expressão semelhante a um sorriso e o seu rosto curvo torna-os cativantes para as pessoas. Na antiguidade, até se atribuíam qualidades mágicas a este animal.

Segundo a tradição, o golfinho do Yangtze anunciava tempestades, servia de amuleto para os pescadores e era o espírito protetor do rio. Isso explica, entre outros aspetos, a sua presença contínua em poemas e todo o tipo de textos literários da cultura chinesa.

No entanto, o seu presente é muito mais sombrio. Estima-se que restem menos de 1.200 exemplares desta toninha em estado de liberdade, e a espécie está classificada como «em perigo crítico» pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

A poesia pode ajudar a conservar os animais?

O estudo publicado na revista Current Biology demonstra que a poesia não é apenas uma expressão artística, mas também serve como um registo de grande valor histórico.

Ao explorar as obras de centenas de escritores ao longo de mais de mil anos, os investigadores conseguiram recolher dados até agora desconhecidos sobre o comportamento dos golfinhos sem barbatana, o seu habitat e a sua relação com o ser humano.

Esta descoberta sobre o golfinho do Yangtze serve para lembrar que a biodiversidade e o património cultural andam de mãos dadas e conseguem despertar consciências. Ao redescobrir o olhar poético dos nossos antepassados, podemos encontrar novas formas de cuidar do mundo que nos rodeia.

Mila/ author of the article

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