Primeiro foi o lítio, depois o cobalto. A China decidiu jogar a sua carta com outro metal essencial para a tecnologia avançada: o gálio. Embora apenas se produzam 760 toneladas métricas por ano, os preços dispararam e as restrições chinesas estão a sufocar a indústria global. O que está a acontecer com o elemento número 31?
Em resumo. A China mantém o domínio sobre o gálio pelo terceiro ano consecutivo, controlando 98,8% do mercado. Há um ano, endureceu as restrições, alegando segurança nacional, o que duplicou os preços para 725 dólares por quilograma, afetando a indústria tecnológica e militar.
A utilidade do gálio. Apesar de a produção anual ser pequena e o seu valor nominal no mercado global não ultrapassar os 550 milhões de dólares, o seu papel estratégico é desproporcional em relação ao seu tamanho de mercado. Segundo explicou à Reuters o jornalista especializado em metais industriais e minerais críticos, Andy Home, o gálio é essencial para fabricar compostos como o arsenieto de gálio e o nitreto de gálio, ambos utilizados em semicondutores de alto desempenho. Estes materiais permitem desenvolver chips mais rápidos e eficientes, essenciais para dispositivos móveis, veículos elétricos e sistemas de defesa.
A história sem fim. A guerra geopolítica travada entre os Estados Unidos e a China não é novidade, nem é a primeira vez que a China usa o gálio como arma de pressão estratégica contra os Estados Unidos em relação aos chips semicondutores de última geração. Conforme relatado pela Reuters, o Ministério do Comércio da China está a vigiar de perto qualquer tentativa de arbitragem física que tente desviar gálio para o mercado internacional, mantendo os preços internos relativamente estáveis enquanto o mercado externo enfrenta um aumento explosivo.
Tem mais alcance. A importância do gálio não se limita ao setor civil, mas também se tornou um material crítico no mundo militar. Na verdade, quem começou foi os Estados Unidos, através da Agência de Projetos de Investigação Avançada de Defesa (DARPA), que impulsionou o desenvolvimento do arsenieto de gálio para radares e armas guiadas. No entanto, a China consolidou a sua liderança com a fabricação de chips de nitreto de gálio para armamento avançado, consolidando a sua posição como líder na produção de semicondutores estratégicos.
Além disso, o país asiático investiu significativamente em fábricas dedicadas a esses componentes, o que lhe permitiria não apenas dominar o mercado civil, mas também ampliar sua capacidade de produção para sistemas de defesa avançados. Essa estratégia não apenas ameaça a posição dos Estados Unidos em tecnologia militar, mas também reforça a dependência global do fornecimento chinês de gálio e outros metais críticos, algo que o Japão já previa.
Os restantes países. A longo prazo, o Ocidente poderá reativar a produção de gálio, mas isso levará tempo. Segundo a Reuters, a Rio Tinto começou a extrair gálio puro na sua refinaria de alumina Vaudreuil, em Quebec, a partir de resíduos industriais. O objetivo é uma planta piloto com uma capacidade de 3,5 toneladas por ano. Por sua vez, na Grécia, o produtor METLEN prevê atingir uma produção anual de 50 toneladas até 2028, como parte de um projeto para aumentar a capacidade de processamento de bauxite e alumina.
No entanto, o desafio é técnico: as empresas ocidentais deixaram de produzir gálio há anos, quando a China inundou o mercado com produtos baratos. Agora, elas precisam recuperar a experiência e o know-how para refinar e processar o metal.
Previsões. A batalha pelo gálio é apenas o prelúdio de uma guerra tecnológica mais ampla. A China demonstrou que está disposta a usar metais críticos como armas estratégicas, e o Ocidente enfrenta o desafio de encontrar alternativas ou correr o risco de ficar exposto a futuras interrupções, como afirmou Andy Home à Reuters. Embora os investimentos em novos projetos sejam promissores, o tempo está a correr. Até que o Ocidente consiga diversificar o seu abastecimento de gálio e outros metais críticos, continuará vulnerável à estratégia de pressão de Pequim.