Evitar o contacto visual pode dizer mais do que imagina: a psicologia, a saúde e a ciência revelam o que está por trás desse comportamento tão comum. Evitar o contacto visual ao falar é mais comum do que parece e pode causar desconforto. A psicologia, a saúde e a ciência explicam por que muitas pessoas têm dificuldade em manter o olhar durante uma conversa sem se sentirem desconfortáveis ou vulneráveis.
Podem estar a dizer algo importante, engraçado ou íntimo, mas os seus olhos desviam-se para outro lado: para o chão, para uma janela, para qualquer lugar menos para os olhos da outra pessoa. Este comportamento nem sempre é fácil de reconhecer em si mesmo, mas quando aparece, gera desconforto tanto em quem o faz como em quem o nota.
Não se trata necessariamente de timidez ou falta de respeito. Na verdade, há pessoas extrovertidas e seguras que também desviam o olhar sem conseguir evitar. Então, por que isso acontece? O que faz com que olhar nos olhos pareça tão invasivo, tão pessoal, tão difícil de sustentar?
Por trás desse gesto aparentemente simples, há um fenómeno mais complexo do que parece. E embora muitos pensem que é uma «questão de personalidade», a explicação vai muito além.
O que revela a psicologia do contacto visual
De acordo com a psicologia, o contacto visual é um dos elementos mais poderosos da comunicação humana. É uma forma de conexão que transmite atenção, empatia, interesse e também vulnerabilidade. Por isso, manter o olhar ativo ativa regiões do cérebro ligadas à autopercepção, à regulação emocional e à interpretação de sinais sociais.
Uma investigação da Universidade de Kyoto revelou que manter o contacto visual durante uma conversa intensa aumenta a atividade no córtex pré-frontal, a zona associada ao pensamento complexo e ao controlo dos impulsos. Mas também, em algumas pessoas, isso pode sobrecarregar o sistema nervoso, gerando desconforto ou até ansiedade.
O psicólogo norte-americano Michael Ellsberg, autor do livro The Power of Eye Contact, defende que olhar nos olhos é um ato de «exposição emocional» e que evitá-lo pode ser uma forma de autoproteção, especialmente em pessoas sensíveis, com baixa autoestima ou que passaram por experiências sociais difíceis.
Além disso, a ciência comprovou que pessoas com neurodiversidades, como transtorno do espectro autista ou ansiedade social, têm uma sensibilidade especial ao contato visual. Não é uma escolha, mas uma resposta neurológica que busca diminuir a intensidade do estímulo.
Mais do que um olhar: sinais do mundo interior
Do ponto de vista da saúde mental, evitar o olhar pode ser uma pista sobre o que se passa no interior de uma pessoa. Não indica necessariamente algo negativo, mas pode refletir uma tentativa de regular as emoções, evitar julgamentos ou simplesmente sentir-se mais confortável.
Algumas pessoas também evitam o olhar por hábito, por normas culturais ou por terem crescido em ambientes onde olhar fixamente não era comum ou era considerado agressivo. Nestes casos, reaprender o valor do contacto visual pode melhorar os laços, fortalecer a confiança e enriquecer a comunicação.
Portanto, se tem dificuldade em olhar nos olhos enquanto fala, não se castigue nem force. Mas talvez possa observar o que sente quando isso acontece. Porque, muitas vezes, por trás de um olhar evasivo há emoções que ainda não encontraram palavras.