O Ministério da Indústria e Construção do Cazaquistão confirmou a descoberta de um grande jacamento de terras raras na região de Karagandá, com uma estimativa preliminar de 935.400 toneladas de reservas, essenciais para a indústria tecnológica. De acordo com o comunicado oficial, trata-se de uma das maiores concentrações já identificadas, o que posicionaria o país em terceiro lugar no ranking mundial.
A descoberta fortalecerá o Cazaquistão no seu papel de cadeia de abastecimento de minerais críticos e abrirá a cooperação regional na Ásia Central, estabelecendo redes de transporte partilhadas e o desenvolvimento de projetos de transporte que conectem centros de produção com compradores estrangeiros.
Qual é o impacto comercial desta descoberta?
Se as estimativas forem confirmadas, o Cazaquistão ficaria atrás da China e do Brasil em termos de produção mundial de terras raras. Isto daria ao país da Ásia Central um lugar privilegiado nos mercados globais que dependem destes recursos para a transição energética.
As terras raras no Cazaquistão representam um recurso fundamental para o desenvolvimento de tecnologias limpas. Esses elementos alimentam desde turbinas eólicas até carros elétricos, setores que dependem cada vez mais de baterias recicladas para energia limpa como alternativa sustentável aos combustíveis fósseis. Aleška Simkić, embaixadora da União Europeia no Cazaquistão, declarou que “a descoberta reforça o papel do país na discussão global sobre matérias-primas críticas”.
O impulso estratégico do anúncio também visa atrair investimentos estrangeiros, especialmente da Europa, que atualmente depende em grande parte da China para o abastecimento desses minerais. Assim, este novo depósito pode ser um fator chave na estratégia de terras raras da UE, que promove a independência no fornecimento de recursos essenciais.
Desafios na extração de terras raras na Ásia
Embora promissor, o desenvolvimento deste depósito apresenta desafios técnicos e logísticos. A atual infraestrutura mineira do Cazaquistão é voltada para outros minerais, pelo que será necessário implementar novas tecnologias para lidar com a extração de neodímio e lantano, dois dos elementos mais valiosos da descoberta.
Georgiy Freiman, presidente do Comité Executivo da Associação de Peritos Independentes em Mineração, explicou que «não pode ser definido como um depósito até que sejam realizados estudos detalhados que validem a mineralização». Nesse sentido, espera-se que a empresa nacional Tau-Ken Samruk lidere a próxima fase do projeto, que incluirá análises geológicas avançadas, estudos de viabilidade e planeamento comercial.
Considerações ambientais
A mineração na região de Karagandá levanta questões sobre o seu impacto ambiental. A extração de terras raras envolve processos que podem alterar profundamente os ecossistemas locais se não forem rigorosamente controlados.
Os reguladores exigiram estudos de impacto ambiental antes de autorizar qualquer operação em grande escala. As comunidades locais, por sua vez, exigem transparência e participação no processo de avaliação. As principais preocupações giram em torno do manejo de resíduos e da proteção das fontes hídricas, fundamentais para a sustentabilidade da região.
O que são terras raras?
As terras raras são um grupo de 17 elementos químicos fundamentais para o funcionamento de dispositivos modernos. Entre os mais procurados estão o cério, o lantano, o neodímio e o ítrio, presentes em telemóveis, ímanes, discos rígidos e tecnologias verdes, como carros elétricos.
Em particular, o neodímio e o lantano desempenham um papel crucial na fabricação de motores para veículos elétricos e materiais para baterias recicladas, usados como solução para o armazenamento de energia limpa.
Esses minerais não são escassos, mas são complexos de extrair e processar, o que torna a sua disponibilidade dependente tanto da tecnologia quanto do contexto geopolítico. Esta nova descoberta pode ser um fator determinante para reduzir a dependência mundial da China e equilibrar a oferta global.
