A feira de artilharia Future Artillery Conference, que aconteceu na semana passada em Londres, deixou um anúncio que representa um importante salto tecnológico neste setor. Uma startup americano-britânica apresentou o primeiro projétil de artilharia supersónico do mundo. Ou seja, é capaz de ultrapassar a velocidade do som (Mach 1 ou 1.235 km/h), embora neste caso o faça por muito mais. A arma atinge Mach 3,5 (4.322 km/h) durante a primeira fase do seu voo, antes de atingir o apogeu, e pode atingir um alvo situado a uma distância de até 150 km.
Um dos motivos é o uso de um motor ramjet ou estatorreator, mais comum em mísseis que exigem alta velocidade e longo alcance. Trata-se de um tipo de motor de propulsão a jato, sem peças móveis como turbinas ou compressores, que aproveita a velocidade do projétil para comprimir o ar que entra. Este ar mistura-se com combustível e, ao queimar, gera impulso ao expelir gases quentes por um bocal.
Características técnicas do Sceptre
• Dimensões: 155 cm de comprimento e 155 mm de diâmetro.
• Propulsão: estatorreator (ramjet).
• Velocidade: Mach 3,5 / 4.322 km/h.
• Altitude operacional: superior a 20.000 metros, o que o coloca fora do alcance da maioria dos sistemas de interferência GPS e contramedidas convencionais.
• Alcance: até 150 km.
• Carga útil: 5,2 kg.
• Precisão: erro circular provável (CEP) inferior a 5 metros, mesmo em ambientes sem sinal GPS. Em comparação, os projéteis padrão de 155 mm costumam ter um CEP superior a 100 metros e um alcance inferior a 100 km.
O sistema incorpora inteligência artificial, GPS e sensores que permitem corrigir erros de trajetória em tempo real. Além disso, os projéteis podem comunicar-se entre si durante o voo para melhorar a pontaria ou coordenar impactos múltiplos.
O Sceptre utiliza um sistema de combustível líquido compatível com diesel, JP-4 ou JP-8. Ao contrário dos projéteis tradicionais de combustível sólido, o Sceptre utiliza um design de reabastecimento “justo a tempo”, o que reduz os riscos de armazenamento e prolonga a sua vida útil para mais de 20 anos. Também facilita a logística, permitindo a utilização de combustíveis comuns.
Compatibilidade e arquitetura aberta
Projetado para ser compatível com sistemas de artilharia padrão da OTAN, o Sceptre pode ser usado com obuses como o M777, o PzH 2000 ou o AS90 sem modificações. Sua ignição de baixo desgaste (do tubo do canhão) e perfil de contato reduzido (menos atrito no canhão ao disparar) ajudam a minimizar a manutenção a longo prazo.
A Tiberius Aerospace, liderada pelo seu fundador e CEO Chad Steelberg, aplicou princípios de engenharia comercial como modularidade e arquitetura aberta. O projétil possui um sistema eletrónico com API aberta que permite a sua integração com sistemas de controlo de fogo de terceiros, facilitando a rápida atualização do software de mira.
Steelberg descreve o Sceptre como uma solução disruptiva não só em alcance ou precisão, mas também em eficiência de custos, sobrevivência e adaptabilidade operacional.
«É uma arma concebida para o campo de batalha do futuro: rápida, precisa e resistente em ambientes hostis», afirma num comunicado da empresa.