Durante uma escavação arqueológica na cidade inglesa de Gloucester, as obras de construção de um novo campus universitário foram interrompidas de forma inesperada. Os trabalhos revelaram uma descoberta que obrigou a revisar completamente o enfoque do projeto: havia esqueletos humanos.
A quantidade impressionante desses restos sugeriu, naturalmente, séculos de história enterrada. As autoridades inglesas e os arqueólogos agora enfrentam uma tarefa delicada, que envolve tanto a conservação do património como a redefinição do uso do terreno.
Como encontraram 317 esqueletos humanos em Gloucester e de onde eles vieram?
Uma equipa de arqueólogos da Cotswold Archaeology descobriu 317 esqueletos humanos enterrados sob os restos de um centro comercial abandonado em Gloucester, Reino Unido. Esta descoberta ocorreu durante as obras de construção do futuro campus universitário da Universidade de Gloucestershire.
Os corpos estavam dispostos em 83 criptas de tijolo, muitas das quais relacionadas com a antiga igreja de St Aldate’s, demolida no século XVIII.
A localização exata corresponde à King’s Square, antiga zona comercial que, séculos atrás, ocupava o quadrante nordeste de uma cidade romana. As primeiras estruturas que vieram à tona incluíam restos de paredes da época romana, pisos de pedra, fragmentos de cerâmica e telhas.
Também foram recuperados objetos do quotidiano, como cachimbos e garrafas de vinho, datados entre os séculos XVI e XVIII. Estes materiais reforçam a teoria de que a zona foi ocupada de forma contínua durante diferentes épocas, passando por períodos romanos, medievais e pós-medievais.
De quem eram estes esqueletos humanos encontrados em Gloucester?
A descoberta dos esqueletos humanos está ligada ao que teria sido um cemitério paroquial medieval, cuja existência foi registada antes da igreja de St Aldate’s ser demolida após sofrer danos durante a Guerra Civil Inglesa.
Na cave do edifício (antigo departamento de roupa masculina da Debenhams) foram encontradas fundações de paredes romanas, possivelmente parte de uma domus ou casa romana, além de uma superfície pavimentada que poderia ter feito parte de uma estrada romana.
De acordo com os responsáveis pela escavação, também foram documentados pilares que teriam pertencido à nave central da igreja do século XVIII.
Fragmentos arquitetónicos, como uma janela com traçados reticulados datada do século XIV, foram encontrados no local. Este tipo de ornamentação é comparável a elementos presentes no transepto sul da Catedral de Gloucester, o que reforça a relevância religiosa e arquitetónica da área.
O que acontecerá agora com as obras do novo campus universitário?
A descoberta dos esqueletos humanos obrigou a suspender temporariamente as obras do novo campus. As autoridades responsáveis pelo desenvolvimento, juntamente com os arqueólogos, priorizaram a conservação dos restos no seu contexto original.
O Dr. Nigel Wichall, diretor de bens imóveis da universidade, afirmou que «é uma prioridade garantir que os túmulos sejam respeitados e conservados no local, se possível».
Desde o início das obras em 2023, as escavações revelaram não só restos humanos, mas também fundações de edifícios romanos, cerâmica do século II e estruturas defensivas do que foi uma cidade romana fortificada.
Cliff Bateman, arqueólogo principal do projeto, declarou que «sempre que trabalhamos em Gloucester, fazemos novas descobertas». De acordo com a sua análise, os dentes dos esqueletos humanos revelam uma dieta rica em açúcares, o que oferece pistas sobre as condições de vida da população enterrada.
A partir da análise dos restos, espera-se determinar com maior precisão a origem, a idade e o estado de saúde dos indivíduos. Muitos destes corpos podem ter pertencido a paroquianos enterrados no cemitério medieval ou a habitantes da cidade romana que ocupou a área séculos antes.
O plano da Universidade de Gloucestershire prevê preservar parte destes vestígios arqueológicos dentro do campus, o que incluiria espaços de exposição pública para os achados mais relevantes. Esta decisão visa integrar a história local no ambiente educativo, permitindo que estudantes e visitantes interajam diretamente com mais de mil anos de ocupação urbana.