Há pouco mais de uma década, na província de Leão, ocorreu uma descoberta que surpreendeu a comunidade científica. Um inseto que estava desaparecido há 160 anos foi redescoberto graças a uma série de avistamentos inesperados.
Este animal era considerado extinto desde meados do século XIX e o seu reaparecimento deixou evidente o quanto ainda desconhecemos sobre a fauna. Quer saber qual é?
O animal que foi redescoberto pelos investigadores em León
Até 2010, o inseto Thyreophora cynophila figurava nas listas de espécies extintas. No entanto, nesse mesmo ano, dois grupos independentes confirmaram a sua presença em diferentes pontos de León.
Jesús Fernández, naturalista amador, localizou exemplares na região de Omaña, conforme informa a Agência Ibero-Americana para a Divulgação da Ciência e da Tecnologia. Por sua vez, as guardas ambientais Judit Blasco e Susana Bayón detectaram-no em Riaño, dentro da Reserva da Junta de Castela e Leão.
As descobertas, publicadas no Boletim da Sociedade Entomológica Aragonesa, contaram com o apoio do especialista Miguel Carles Tolrá, uma das principais autoridades em dípteros em Espanha.
Este é o aspecto da mosca que se considerava extinta
Esta curiosa mosca destaca-se pela sua aparência inconfundível: corpo azul metálico e uma cabeça laranja muito visível. Foi descrita pela primeira vez em 1798 pelo entomologista alemão Panzer, e os seus últimos registos antes da redescoberta remontam a 1840, em França.
Até então, a sua presença era conhecida apenas na Alemanha, Áustria e França. Em 2007, após mais de um século sem avistamentos, foi oficialmente declarada extinta.
Alimentação e comportamento da mosca «Thyreophora cynophila»
A Thyreophora cynophila alimenta-se exclusivamente de animais mortos, especialmente grandes mamíferos como veados, cavalos ou vacas. Embora se pensasse que as suas larvas se desenvolviam apenas na medula óssea, alguns avistamentos em carniça de aves, como abutres, colocaram essa teoria em dúvida.
Os ossos das aves são ocos, o que sugere que este animal poderia aproveitar outras partes moles do corpo em decomposição.
Estas são as razões pelas quais esta mosca passou despercebida por mais de um século
Os especialistas apontam três motivos principais: a época em que está ativa (inverno), o ambiente em que vive (cadáveres em decomposição) e o escasso interesse que desperta entre quem não é especialista em entomologia. Encontrá-la geralmente requer a revisão de cavidades internas dos cadáveres, algo que poucos investigadores estão dispostos a fazer de forma sistemática.
Desde a sua redescoberta em León, este animal foi detectado em várias províncias, como Soria, Cuenca, Segóvia, Guadalajara, Madrid, La Rioja e Saragoça. A combinação da divulgação científica, o uso das redes sociais e a tecnologia no campo facilitaram novos avistamentos.
Segundo explica o professor Nicolás Pérez Hidalgo, da Universidade de León, à Agência Ibero-Americana para a Divulgação da Ciência e da Tecnologia, a presença de grandes mamíferos (tanto selvagens como domésticos) nessas zonas favoreceu a expansão da mosca Thyreophora cynophila.
