Os super iates tornaram-se o último reduto de demonstração de opulência e status para milionários que exibem seu poderio econômico exibindo suas mansões flutuantes. É mais do que provável que nenhum desses milionários se questione se as madeiras finas dos pisos dessas massas flutuantes são ou não respeitosas com o meio ambiente.
No entanto, houve alguém que se questionou e fez uma escolha curiosa a esse respeito. Steve Jobs, obcecado em controlar até o mais ínfimo detalhe do design do seu iate, trocou a madeira de teca de Mianmar, proibida devido ao impacto ambiental do seu abate, por uma madeira muito mais sustentável: a do salgueiro que cresce nas montanhas de León.
Teca: a madeira tradicional dos iates de luxo
Durante décadas, a teca foi a escolha preferida para os pisos dos iates de luxo. A sua beleza natural e resistência às condições extremas do mar tornam-na um material muito valorizado. No entanto, a procura por esta madeira colocou em grave risco as florestas da Índia, Laos, Mianmar e Tailândia, onde esta espécie é principalmente cultivada.
Devido ao perigo de desflorestação e à exploração insustentável, a comercialização da teca foi proibida em muitos países. Organizações internacionais como a FAO alertaram para o impacto ambiental e impulsionaram restrições para proteger estes ecossistemas ameaçados.
Apesar das proibições, a teca continuou a chegar ao mercado dos iates de luxo através de canais ilegais. Um caso emblemático é o do estaleiro holandês Oceanco, responsável pela construção do Koru para Jeff Bezos.
A Oceanco foi multada em 150 000 dólares por utilizar madeira de teca proveniente de Mianmar, um país onde a exploração florestal está associada a conflitos e graves problemas ambientais.
Este escândalo ganhou maior relevância porque o Koru é apresentado como um símbolo de inovação e sustentabilidade, enquanto na realidade recorreu a práticas que contradizem esses valores. O uso de teca de origem ilegal no convés do iate de Bezos foi duramente criticado, especialmente porque o próprio magnata recebeu prémios pela sua suposta contribuição para a preservação do ambiente.
A aposta de Steve Jobs nos chopos de León
Perante esta controvérsia, Steve Jobs tomou uma decisão radicalmente diferente para o seu iate Venus. Obcecado pela perfeição e sustentabilidade, Jobs rejeitou a teca de mais de 60 países e escolheu madeira de choupo de León. Uma variante do álamo, conhecida pela sua qualidade e baixo impacto ambiental.
Segundo revelou a Universidade de León num fórum especializado, tanto os convés como alguns elementos estruturais do Venus foram fabricados com esta madeira local, detalhou o Diario de León.
O salgueiro de León é muito apreciado na construção naval de luxo pela sua resistência e leveza, qualidades que o tornam uma alternativa ideal à teca. Esta escolha não reflete apenas o compromisso de Jobs com a excelência, mas também a sua preocupação com o planeta.
O fundador nunca chegou a ver o iate que projetou em conjunto com Philippe Starcks, mas supervisionou todos os detalhes do projeto até à sua morte em 2011. O iate foi entregue em 2012.
Segundo a Superyatch Fan, o Venus está avaliado em 120 milhões de dólares. A sua silhueta afilada estende-se por 78 metros de comprimento e destaca-se pela sua estética futurista e tecnologia de ponta. A ponte de comando está equipada com sete iMacs de 27 polegadas e os espaços interiores são envoltos em vidro do chão ao teto, proporcionando uma luminosidade e amplitude excecionais.
O interior do Venus é sóbrio e elegante, com sistemas de iluminação, climatização e até entretenimento que, segundo rumores, podem ser controlados a partir de iPads, em linha com a filosofia da Apple de oferecer uma experiência intuitiva e sofisticada. O iate pode acomodar 12 convidados em seis camarotes e precisa de uma tripulação de 22 pessoas para operá-lo.