Num ambiente onde a maioria dos peixes nada com elegância entre as correntes, existe uma criatura que prefere andar. O peixe-morcego — nome comum de várias espécies do género Ogcocephalus — é um dos animais mais estranhos do fundo do mar e, recentemente, foi avistado em zonas do Mediterrâneo, despertando o interesse dos biólogos marinhos pela sua morfologia e comportamento peculiares.
Com um corpo achatado, extremidades adaptadas para se deslocar sobre a areia e uma aparência que lembra uma criatura de outro planeta, este peixe move-se como se patrulhasse o leito marinho em busca de presas.
Não nada, anda
O que mais chama a atenção é a sua forma de andar. Ao contrário da maioria dos peixes, que usam a cauda para se impulsionar, o peixe morcego apoia-se em barbatanas peitorais que funcionam quase como patas, deslocando-se com pequenos passos desajeitados, mas decididos. Esta estratégia não é casual: a sua dieta baseia-se em pequenos invertebrados e peixes que habitam no fundo, e a sua forma de se mover permite-lhe aproximar-se sem levantar muita areia. Muitas vezes, passa despercebido pela sua capacidade de se camuflar com os sedimentos, o que o torna um predador eficaz, apesar da sua aparência pouco ágil.
Outra característica que intrigou os cientistas é a sua «blindagem»: o corpo do peixe-morcego é coberto por uma pele dura e rugosa, semelhante a uma armadura, que o protege de predadores e permite-lhe resistir a ambientes com pouca oxigenação ou altas pressões. Essa adaptação, juntamente com o seu andar furtivo, dá-lhe um ar pré-histórico que lembra mais um tanque biológico do que um peixe tradicional. Alguns exemplares estudados apresentam até modificações no focinho que lhes permitem escavar ligeiramente o leito marinho.
O recente avistamento em águas pode estar relacionado com mudanças na temperatura do mar ou com movimentos migratórios pouco documentados de espécies de águas profundas. Segundo especialistas do Instituto de Oceanografia, estes peixes costumam habitar zonas tropicais e subtropicais do Atlântico e do Caribe, pelo que o seu aparecimento no Mediterrâneo pode ser um indício de deslocamentos ligados ao aquecimento global ou a variações nas correntes marítimas. Em qualquer caso, não se trata de uma espécie perigosa para o ser humano, embora seja rara e fascinante do ponto de vista científico.