Anel de Noivado de 2300 Anos em Ouro e Granada é Encontrado na Cidade de David, Jerusalém

Um raro anel de noivado, em ouro e granada, foi descoberto em Jerusalém durante escavações arqueológicas. Com mais de 2300 anos, a joia revela a sofisticação material e os costumes da antiga Judeia no período helenístico, reforçando que algumas manifestações do amor resistem ao tempo.

A descoberta, feita por arqueólogos da Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA) em colaboração com a Universidade de Tel Aviv, ocorreu na emblemática Cidade de David, o centro histórico da capital israelita. Este valioso objeto, datado entre o final do século IV e o início do século III a.C., não só se destaca pelo seu impecável estado de conservação e requinte técnico, mas também pelo que revela sobre o estatuto social e as práticas privadas dos seus antigos proprietários.

Um achado excecional num contexto simbólico

A Cidade de David está situada nas proximidades do Muro das Lamentações e constitui um dos sítios arqueológicos mais estudados de Israel. Lá, onde a arqueologia se entrelaça com a história bíblica, cada achado torna-se uma peça fundamental para compreender a complexidade cultural da Jerusalém antiga.

O anel foi encontrado num edifício residencial, escavado no âmbito de um projeto em curso para investigar as camadas mais profundas de ocupação urbana na zona. Segundo os arqueólogos, não se tratou de uma perda fortuita, mas sim de algo enterrado intencionalmente sob o chão de uma divisão.

A peça é formada por um aro fino e oval de ouro com uma pedra de granada vermelha polida. A pedra foi engastada através de uma técnica sofisticada que dispensou o uso de soldas ou de uma cravação visível. A sua elaboração não só exigiu o acesso a metais preciosos, mas também a disponibilidade de artesãos especializados. Tudo isso indica que deve ter pertencido a uma pessoa de alto estatuto económico ou familiar.

A hipótese do anel de noivado do período helenístico

Uma das hipóteses mais interessantes sobre o anel aponta para a sua possível função como símbolo de compromisso matrimonial. Segundo a estudiosa Marion Zindel, é provável que pertencesse a uma jovem noiva que decidiu enterrá-lo. Por que razão o fez? Talvez para o proteger durante um conflito ou como parte de um ritual pessoal relacionado com o casamento.

Embora não existam inscrições no anel que permitam identificar o seu proprietário ou proprietária, o seu estilo assemelha-se ao de outras joias helenísticas encontradas em sítios arqueológicos na Síria, Egito e Macedónia. Este paralelismo confirma a penetração da cultura material grega na Judeia após a conquista de Alexandre em 332 a.C. e durante a consolidação dos reinos helenísticos, como o dos Ptolomeus no Egito ou o dos Selêucidas na Síria.

Neste contexto, as joias funcionavam como um marcador identitário e cultural. A escolha da granada, uma pedra semipreciosa de tom vermelho intenso, tinha conotações simbólicas associadas à paixão, proteção e fertilidade. O design e os materiais refletem a influência do gosto grego combinado com as tradições locais, o que sublinha o caráter híbrido da sociedade judaica da época.

Jerusalém durante a época de Alexandre Magno

A descoberta situa-se numa fase histórica pouco documentada em Jerusalém: a transição entre o domínio persa e o helenístico. Após a conquista da região por Alexandre Magno, a Judeia ficou sob controlo grego. Primeiro, ficou nas mãos do próprio Alexandre; depois, tornou-se uma zona disputada entre os diádocos, os generais que dividiram o seu império após a sua morte em 323 a.C.

Embora Jerusalém não tenha sido o centro das grandes batalhas helenísticas, a cidade passou por um processo de helenização gradual, visível tanto no urbanismo como nos objetos domésticos. O anel constitui, nesse sentido, uma prova tangível dessa mudança cultural, ao mostrar como as elites locais adotaram elementos do estilo grego sem abandonar completamente a sua identidade tradicional.

Os arqueólogos salientam que são muito poucos os objetos pessoais deste nível de sofisticação que sobreviveram na região para este período. A joia representa uma evidência rara da vida quotidiana num momento de transição histórica.

Técnica e conservação: uma obra-prima em miniatura

O estado de conservação do anel surpreendeu os especialistas. Após dois milénios debaixo da terra, a pedra de granada mantém o seu brilho e transparência, e o ouro não apresenta sinais significativos de corrosão. Isto deve-se tanto à qualidade dos materiais como às condições ambientais do local onde foi depositado.

Por outro lado, a cravação da gema — sem o uso de técnicas invasivas ou materiais adesivos — revela um conhecimento técnico avançado. Os ourives que criaram esta peça manejavam com destreza as ferramentas miniaturizadas e as técnicas de modelagem próprias das oficinas helenísticas.

Atualmente, uma equipa multidisciplinar que inclui especialistas em metalurgia antiga, história da arte e arqueologia do Levante está a estudar o anel. Espera-se que, nos próximos meses, seja publicado um relatório completo com os resultados das análises químicas do ouro e do granada. Isso poderá fornecer pistas sobre a origem dos materiais e as rotas comerciais ativas na região durante o século IV a.C.

Implicações para a arqueologia e a história cultural

Para além do seu valor estético, o anel levanta novas questões sobre as dinâmicas sociais e económicas em Jerusalém durante os primeiros tempos do domínio helenístico. Que setores da população tinham acesso a este tipo de objetos? Que papel desempenhavam as mulheres na transmissão de riqueza simbólica através da joalharia? Existiam rituais específicos ligados ao enterro de objetos pessoais?

Os arqueólogos consideram que esta descoberta pode ser a primeira de uma série de objetos semelhantes que ainda permanecem enterrados na Cidade de David. De facto, as escavações atuais revelaram vários níveis de ocupação sucessiva que permitirão estudar em detalhe a evolução urbana e cultural do local ao longo dos séculos.

A descoberta contribui para redefinir a imagem de Jerusalém na antiguidade, não apenas como centro religioso e político, mas também como cenário da vida cotidiana, dos afetos e das memórias pessoais.

Este artefato é apenas um exemplo de como o ouro era utilizado na antiguidade. Leia outros artigos sobre ouro e seu significado em diferentes culturas.

Mila/ author of the article

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