Tenho a casa cheia de aparelhos ligados e nenhum eletrodoméstico inteligente: parece absurdo, mas é a melhor coisa que já fiz.

Sim, leu bem. Vivo rodeado de sensores, luzes que acendem automaticamente, rotinas programadas com Alexa ou Google Home (poucas, não muitas) e assistentes virtuais que me permitem controlar diferentes aspetos, mesmo quando não estou em casa. No entanto, há uma área em que ainda não vejo necessidade de dar o salto: os eletrodomésticos conectados (máquinas de lavar roupa, frigoríficos, fornos, máquinas de lavar louça, robôs de limpeza…).

Quando se trata deste tipo de aparelhos, tenho uma opinião clara: prefiro os de sempre, sem Wi-Fi, sem aplicações e sem notificações. E não, não é uma contradição. É uma escolha ponderada, baseada na utilização real que faço deles (não vou ligá-los à nuvem), no seu custo e, porque não dizer, na confiança que me dá o seu funcionamento simples e comprovado.

Automatização inteligente, mas com bom senso

Transformar a minha casa num lar inteligente foi um processo gradual, ponderado e, acima de tudo, muito gratificante. Aos poucos, fui incorporando dispositivos conectados, quase sempre elementos simples: desde o controlo por voz das luzes até ventiladores de teto controlados à distância. Em geral, pequenas melhorias destinadas a facilitar a rotina diária.

No entanto, com o tempo, cheguei a uma conclusão clara: nem tudo que é «inteligente» é necessário, especialmente quando se trata de eletrodomésticos. A oferta é tentadora: frigoríficos que avisam quando falta leite, máquinas de lavar que podem ser controladas a partir do telemóvel… mas a verdade é que, exceto por um robô de limpeza que controlo a partir do telemóvel, optei por ficar de fora dessa tendência: por enquanto, não quero uma máquina de lavar inteligente.

E não foi por capricho. Por um lado, quando me mudei, renovei boa parte dos eletrodomésticos, e eles ainda não completaram uma década: funcionam perfeitamente e não vejo motivo para substituí-los. Por outro lado, considero que muitas das funções «inteligentes» que oferecem não trazem vantagens reais no uso diário — pelo menos no meu caso — e não justificam o custo adicional que geralmente implicam.

Para quê pagar mais por algo que não vou usar?

Um dos grandes problemas que pessoalmente encontro nos eletrodomésticos conectados é a sua relação qualidade-preço. Em geral, são modelos que, com a desculpa de terem funções inteligentes, costumam custar significativamente mais. Mas tenho a certeza de que, no meu caso, são características que raramente usaria.

Preciso mesmo que o frigorífico tenha um ecrã tátil? Vou abrir uma aplicação só para ligar a máquina de lavar roupa? No meu caso, a resposta é clara: não. E se alguma vez tive dúvidas, exemplos como o da máquina de lavar louça com Wi-Fi que mencionámos não fazem mais do que reforçar a minha decisão.

Não se trata apenas de uma opinião pessoal. Henry Kim, responsável pela ThinQ, já o referiu numa entrevista ao The Wall Street Journal: menos de 50% dos eletrodomésticos inteligentes permanecem ligados à Internet. Embora sejam anunciados como dispositivos «inteligentes», a verdade é que muitos utilizadores mal aproveitam as suas funções conectadas.

Um funcionamento deficiente

Mas a minha rejeição não se baseia apenas na sua falta de utilidade. Na minha opinião, muitas destas funcionalidades estão mal implementadas ou dependem de plataformas pouco fiáveis, que muitas vezes perdem o suporte com o passar do tempo. Eu vivi isso em primeira mão com algumas lâmpadas inteligentes que deixaram de funcionar corretamente após uma atualização. Nesse caso, a perda foi aceitável, mas quando se trata de uma máquina de lavar roupa ou um frigorífico, o investimento é considerável e, aí, já não me parece um risco aceitável.

Obsolescência programada. Nesse sentido, antes de fazer um investimento importante num produto deste tipo, penso sempre em outras experiências semelhantes. Mesmo que o aparelho funcione bem, se a aplicação deixar de estar disponível, o serviço na nuvem desaparecer ou o sistema operativo ficar obsoleto, o eletrodoméstico pode perder funções essenciais. E isso apesar de o resto do eletrodoméstico funcionar na perfeição.

E isso sem contar que todas essas funções «inteligentes» dependem de uma ligação à Internet. No final, estou a pagar um extra por funcionalidades que podem deixar de funcionar assim que algo falha. Não é preciso chegar a um apagão —como o que vivemos recentemente—; basta uma queda da rede ou um router avariado para que todas essas funcionalidades inteligentes fiquem completamente inutilizadas.

Mais ligações, mais falhas

Talvez eu me considere um «velho digital», mas se algo o tempo me ensinou é que os dispositivos atuais não duram como os antigos. Em casa, tínhamos uma televisão Philips de tubo que funcionou sem problemas durante quase 20 anos. Trocámo-la apenas para nos modernizarmos, não porque tinha deixado de funcionar. Hoje em dia, algo assim parece-me quase impossível.

E se já tenho as minhas reservas em relação aos eletrodomésticos em geral, quando penso nos modelos conectados, essas dúvidas multiplicam-se. A sua fiabilidade gera desconfiança. Quanto mais componentes eletrónicos, sensores e camadas de software um aparelho tem, mais pontos de falha acumula. E quando algo falha num dispositivo inteligente, não só pode ser mais difícil de reparar, como também muito mais caro, ou mesmo inviável se o suporte técnico desaparecer ou deixar de ser atualizado.

Preocupa-me a privacidade

Também não se pode ignorar o fator privacidade. Cada dispositivo conectado à Internet recolhe e transmite dados, desde padrões de uso até informações pessoais sobre os nossos hábitos diários. E o problema não é apenas que eles geram dados, mas que muitas vezes não fica claro quem os recolhe, como são armazenados, para que fins são usados ou por quanto tempo permanecem guardados.

Essa opacidade transforma o que poderia parecer uma função inofensiva em mais uma preocupação. A falta de transparência por parte de alguns fabricantes, a cessão de dados a terceiros ou mesmo possíveis brechas de segurança fazem com que confiar cegamente neste tipo de tecnologia não seja uma decisão trivial. Num ambiente em que cada clique ou utilização pode ser monitorizado, proteger a privacidade deve ser tão importante quanto garantir o bom funcionamento do dispositivo.

A simplicidade também é inteligente

O que realmente quero de um eletrodoméstico é que cumpra sua função de forma eficiente, que seja fácil de usar e que dure o máximo possível. Prefiro uma máquina de lavar com botões físicos, que possa ser consertada por um técnico comum, do que uma com conectividade Bluetooth que provavelmente não usarei nem uma vez.

Mila/ author of the article

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