Dólares dos colchões: O governo conclui os detalhes para atrair moeda estrangeira de fora do sistema para a circulação comercial.

Após adiar o anúncio oficial, a equipa económica concentra-se nos aspetos técnicos e jurídicos finais do novo regime, sem gerar mais encargos nem comprometer as normas do GAFI. O início da nova etapa de remonetização em dólares com medidas que incentivem o uso dos dólares guardados debaixo do colchão terá que esperar um pouco mais. O governo adiou por razões políticas a apresentação dessa iniciativa para depois das eleições deste domingo, após um complexo trabalho técnico que se estendeu até o último momento e que, segundo se soube no final da semana, incluirá finalmente uma instância de discussão no Congresso.

Na implementação desta série de medidas, cruzaram-se, nos últimos dias, motivações de diferentes tipos: por um lado, macroeconómicas. O Governo precisa de dar combustível à economia para evitar uma desaceleração da atividade como consequência de um regime monetário muito restritivo.

Para isso, como não pode colocar novos pesos em circulação, aposta na entrada no circuito formal dos dólares poupados nos últimos anos pelos contribuintes que estão fora dos bancos. Não é a primeira tentativa para obter um resultado semelhante.

A última, sem ir mais longe, foi a legalização do capital aprovada por lei no ano passado e que terminou há dez dias. Essa entrada de divisas — cerca de US$ 20 bilhões em notas — teve como corolário o aumento do volume de empréstimos em moeda estrangeira, uma das consequências esperadas pela equipa económica.

Outra motivação é política: foi ela que acabou por decidir que a apresentação formal será feita na próxima semana, após o término das eleições em Buenos Aires.

O governo afirma que não quis se expor a questionamentos dos demais espaços políticos por uma medida que recebeu críticas por um potencial enfraquecimento dos mecanismos de controle de lavagem de dinheiro do narcotráfico, terrorismo e outros atos criminosos extremos.

Houve também, de forma interligada, um intenso trabalho jurídico e técnico para garantir que as medidas não ficassem expostas a esse tipo de acusação.

O governo precisará que o novo mecanismo permaneça em vigor por decreto e continue a cumprir os padrões internacionais de transparência financeira e prevenção de crimes como a lavagem de dinheiro, para não receber uma advertência severa do Grupo de Ação Financeira Internacional (GAFI), que supervisiona as regulamentações de cada país sobre o assunto.

Uma das medidas que mais se destacou e que o governo evitou confirmar até o momento do anúncio oficial tem a ver com o Imposto sobre o Rendimento.

A mudança implicaria uma modificação na forma de apresentar as declarações de imposto de renda para trabalhadores autônomos. Na Argentina, a regulamentação exige que cada contribuinte detalhe com precisão seus consumos, rendimentos e bens. Esse mecanismo obriga a informar tanto o montante dos rendimentos quanto o nível dos gastos.

O esquema proposto sugere eliminar a obrigação de justificar detalhadamente o património no encerramento do ano fiscal. A proposta se concentra em permitir a declaração exclusiva dos ganhos líquidos. De acordo com o que foi divulgado, as pessoas com maior património não seriam afetadas por essa simplificação.

Remonetização e reativação

Em relação ao impacto macroeconómico, a equipa económica acredita que, para sustentar o ritmo da atividade económica, será necessário permitir uma remonetização, não mais em pesos, mas em moeda estrangeira, e essa mensagem foi expressa aos investidores nos últimos contactos que a equipa económica teve com representantes de fundos de investimento.

Foi o que compilou o Adcap Grupo Financiero num relatório aos clientes: «A economia precisa de remonetização: espera-se que o M2 (agregado monetário) suba dos atuais 4,5% do PIB para 8% histórico. No entanto, com o novo acordo com o FMI, os agregados monetários permaneceriam estáveis em relação ao PIB. Por isso, parte dessa remonetização deverá ocorrer em dólares”, foi a mensagem transmitida pelo ministro da Economia, Luis Caputo, e Santiago Bausili, presidente do BCRA, aos investidores.

De acordo com a consultoria Quantum, “há um processo marginal de monetização em dólares, coincidindo com o levantamento das restrições cambiais para pessoas físicas e quando a oferta líquida de divisas (em parte sazonal) poderia gerar mais pressões de queda sobre o tipo de câmbio nominal”.

Neste contexto, o Banco Central não está a intervir no mercado cambial livre como comprador. «É o setor privado (as pessoas físicas) que o faz», indica o relatório, ao mesmo tempo que destaca que «são as pessoas físicas que estão a depositar os dólares nos bancos».

Novas medidas para incentivar o uso do dólar na economia poderiam «reforçar os motivos para incorporar divisas ao processo de monetização (Quantum)

A Quantum destaca que novas medidas para incentivar o uso do dólar na economia poderiam “reforçar os motivos para incorporar moedas estrangeiras ao processo de monetização”.

No entanto, a consultora do ex-secretário das Finanças, Daniel Marx, adverte que «manter isso no segundo semestre do ano representa um desafio», já que nesse período «a oferta sazonal de moeda estrangeira comercial não tem o volume do primeiro». Nesse contexto, «aparece com maior peso relativo o papel dos fluxos da conta de capital, tanto privados como públicos».

Nesse contexto, um relatório do Ieral da Fundación Mediterránea revelou que os últimos indicadores setoriais de atividade acenderam um sinal amarelo no semáforo. «Um grande número de indicadores setoriais e estimativas alternativas às estatísticas oficiais apontam para uma desaceleração do crescimento no mês de março». De acordo com as suas estimativas preliminares, «verificou-se uma redução no nível de atividade que compensa o crescimento dos dois primeiros meses do ano».

Esta desaceleração, aponta o instituto, «coincidiu com a aceleração inflacionária que se tornou acentuada durante o início do ano, tanto em fevereiro como em março», com consequências na competitividade e na recuperação do poder de compra.

Além disso, o relatório sublinha que estes fatores se combinaram com «um aumento da incerteza que precedeu o levantamento do cepo». Em abril, «é possível que estas condições continuem a prevalecer», dado «o repasse dos ajustes na taxa de câmbio oficial para os preços e as oscilações desta dentro da banda cambial».

«Supondo que se consiga mobilizar no restante do ano apenas 2% das participações e estimando-as em US$ 400 bilhões, isso se traduziria em transações de US$ 8 bilhões, gerando receitas fiscais de IVA de quase US$ 1,6 trilhão, quase a metade do que foi arrecadado com esse imposto em abril», estimou Agustín Monteverde.

Mila/ author of the article

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